Pós-COVID

Acho que eu nunca me recuperei 100% da pandemia (assim como acredito que seja o caso da maioria das pessoas). O trauma do isolamento sempre fica um pouco presente, especialmente porque ainda passo o dia no mesmo lugar, a mesa mesa, o mesmo canto da parede. Às vezes penso que seria bom mudar a mesa de lugar, se não der pra mudar de casa, mas isso ainda vai ter que esperar uns anos.

Meu plano é provavelmente sair da Califórnia em dois anos, e ir morar mais pro leste do Estados Unidos, pra ficar mais fácil de viajar pro Brasil e pra Europa, pra fica mais fácil de falar com os amigos e parentes.

Aí penso em finalmente comprar uma casa num lugar mais barato (o Vale do Silício é realmente surreal de preços) e finalmente superar esse trauma. Reestabelecer conexões, arrumar novos objetivos. Dois anos. Passa rápido, o meu último post aqui foi de dois anos atrás. 🙂

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O fim do Twitter

Fiz minha primeira conta no Twitter em Outubro de 2007, 15 anos atrás. Com a compra da empresa pelo Elon Musk, meu último refúgio em redes sociais acaba. Gostava muito de trocar idéias por lá, especialmente com a comunidade de RPG, como o Tchelo, o Sembiano, Brave e mais.

Eu já tinha abandonado todas as redes sociais do Mark Zuckerberg uns três anos atrás. Facebook foi fácil, e só benefícios. Instagram é na minha opinião a rede mais inútil, sendo um scroll infinito de futilidades, então foi tranquilo também. WhatsApp limitou minhas conversas com familiares no Brasil, mas quem queria mesmo manter o contato, continuou a conversa no Telegram e no Signal.

Me sobram agora o LinkedIn, onde nunca coloco posts, mas tenho uma rede de contatos, e o Reddit, onde frequento e comento em comunidades de RPG e da região onde moro.

E claro, mantenho(?) minha presença online aqui, onde tenho esse blog desde 2001. Se quiser seguir postagems de RPG, ainda mantenho o Rolando20.

Abraços!

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Pandemia

É muito louco que esse blog ainda esteja de pé depois de mais de vinte anos. E não tenho como não registrar um dos maiores eventos do século 21. A pandemia do SARS-COV-2, causador do COVID-19.

A minha situação peculiar da pandemia foi estar numa super bolha, o vale do silício, na Califórnia, Estados Unidos, com duas filhas pequenas e com um emprego que me permitiu trabalhar de casa.

O começo foi meio maluco pra mim. Foi a primeira vez na vida que experimentei uma crise de ansiedade. Eu ficava vendo notícias, acompanhando números, procurando informações no Twitter. Não conseguia dormir direito, tive palpitações e tremedeiras. Falei com uma psicóloga, melhorou. Desconectando mais, essencialmente.

Em Março de 2020 eu escrevi alguns pensamentos para tentar encontrar os gatilhos da minha ansiedade. Alguns deles:

  • Isso nunca vai acabar;
  • Pessoas que eu conheço pegar COVID e morrer;
  • O “normal” acabou;
  • A vida das minhas filhas mudou para sempre;
  • Meu futuro mudou pra pior;
  • Não posso fazer mais as minhas atividades favoritas;

É claro que muitas dessas coisas não foram verdadeiras (emboras outras sim). Os primeiros meses de isolamento foram bem estressantes, cada ida ao mercado era uma aventura angustiante. O trabalho era difícil, e de repente nos vimos os quatro presos dentro de casa quase todo o tempo. Ficar todos juntos não foi difícil, mas precisamos todos a aprender a ficar juntos e encontrar nossos espaços. Em Agosto de 2020, escrevi:

  • As crianças nunca estiveram tão felizes (brincando em casa);
  • Eu nunca joguei tanto RPG e videogame (minhas atividades favoritas);
  • O trabalho é mais ou menos o mesmo (com saudades da comida do escritório);
  • Ninguém que eu conheço de perto morreu de COVID-19;

No final do ano, em Dezembro de 2020, adicionei:

  • Está tudo bem;
  • Fui promovido no trabalho;
  • Vou ter um novo gerente no time ano que vem e vai melhorar minha carga de trabalho (ainda não melhorou!);
  • Vacinas estão à caminho;
  • Meu futuro só melhorou;

Hoje, estou vacinado, a Iara vacinada, as crianças de férias mas indo em colônias de férias e prontas para ir presencialmente para a primeira série, com vacinas à caminho pra elas também. Me tornei um cidadão americano e vou votar em dois meses. Estou indo pro escritório duas vezes por semana. As coisas ainda não estão “normais”, e nunca serão como foram dois anos atrás. Mas acabaram sendo muito melhores do que imaginei que seriam em Março de 2020.

Sei que a situação não é a mesma no resto do mundo, especialmente para meus familiares no Brasil. E ainda sinto muita falta de jogar RPG e jogos de tabuleiro presencialmente, de viajar. Mas acho que o pior da pandemia já passou, e isso é ótimo.

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Malcolm Young, meu casamento, meu pai e o Google

Hoje morreu o Malcolm Young, guitarrista do AC/DC, uma das minhas bandas de rock favoritas. E isso combinou um monte de emoções malucas, e enquanto ouço um playlist matador com os riffs do Australiano, explico aqui daonde veio esse monte de emoções, e o título.

Eu tive a sorte de ir no show da última turnê que ele particpou, o Black Ice. Foi lá que eu pedi a Iara em casamento, como contei aqui no blog. Ao som de Moneytalks com o solo de Young, eu dava um passo na vida.

Eu lembro de quando fiz a minha última entrevista para entrar no Google, o meu emprego dos sonhos. Era uma sexta feira, chovendo em São Paulo, e pela manhã deixei meu pai no Hospital das Clínicas da Unicamp, que se tratava de um câncer nas cordas vocais. Meu pai não morava em Campinas, e eu tentava ajudá-lo na medida do possível. Somado ao estress da entrevista, não sabia o que ia acontecer no hospital.

Mas lembro que deixei de presente para ele esse livro que contava a história do AC/DC. E fui dirigindo para São Paulo, com a cabeça cheia. Fiz a entrevista (na verdade, uma apresentação, para funcionários do Google Brasil e do Google em Mountain View), e voltei pra ver meu pai, que estava bem.

No final, passei na entrevista, e fui trabalhar em São Paulo no meu emprego dos sonhos, onde fui morar com minha namorada de longa data, a Iara, dando mais um passo. Depois naquele ano, me casei (com AC/DC no playlist da festa, claro).

Ontem foi aniversário de 60 anos do meu pai. Rock’n’roll ain’t noise pollution man.

 

A morte do blog

Impressionante como o blog pessoal, para todos os fins, morreu. Eu escrevi aqui desde 2001 (Mais de 15 anos atrás), mas apesar de colocar updates constantes no Twitter, Facebook e Instagram, já faz quase um ano que eu não adiciono nada aqui.

Minhas filhas já estão enormes, com mais de dois anos, e já estou a quase três anos aqui nos Estados Unidos. Voltei a joguei RPG e comecei a fazer amizades tudo de novo. Uma vida que eu acho que o universitário de 2001 nunca iria imaginar.

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Paternidade

Eu achava que a paternidade não seria fácil. Achava que teria alguma transformação, uma mudança no estilo de vida e tals. Mas eu sempre tinha achado que seria uma alteração externa. Eu entendia que dormiria menos, que daria trabalho, aquelas coisas todas que as pessoas adoram dizer para os casais grávidos em geral:

– “Aproveite pra dormir agora, heim!”; “Pode se despedir do videogame”; “Depois de 20 anos passa”; e por aí vai.

E, de fato, foi tudo por aí mesmo até agora. Mas o que ninguém tinha me dito, e eu não tinha lido em nenhum livro de paternidade, é o quanto esse processo iria me transformar por dentro. Quando as pessoas falam que ter filhos mudam, não é simplesmente o estilo de vida. É uma transformação real da pessoa que elas são.

O que é que mudou pra mim? Pra começar, uma compreensão maior da própria mortalidade. A própria morte passa a ter uma significância e puxa desdobramentos maiores, e você passa a pensar muito mais no futuro, na velhice, no longo prazo. Aposto se compararmos a poupança média de pais vs. não pais, descontada a idade, deve dar uma boa diferença. Mas a questão não é só prática, é filosófica também. A questão da irrelevância da presença humana no planeta e no universo fica mais visível quando você se vê no papel reprodutório, sendo mais uma bactéria se multiplicando no cosmos.

Em seguida, a minha visão dos meus próprios pais e avós também mudou. Só com trinta e tanto anos consegui compreender muitos dos esforços e sacrifícios dos meus próprios cuidados, tantas vezes esquecidos e que mal recebem um telefonema.

Outra coisa que mudou é, na minha cabeça, como eu processo os sentimentos. Eu sempre fui um cara super racional e pouco emotivo. O fato real de ter que lidar com criaturas que são basicamente irracionais quando nascem, e vão ganhando essa capacidade de maneira gradual foi um desafio que, de novo, me mudou consideravelmente. Hoje eu processo as coisas muito mais emocionalmente. Choro, muito mais. Outro dia vi essa foto no meu feed de notícias. Não sei quem é o fotógrafo, mas ela mostra refugiados sírios, com pais fugindo com seus filhos. Só de ver a imagem, e imaginar a situação, eu comecei a chorar, ali mesmo (acho que estava no banheiro do trabalho). Isso não acontecia comigo antes. Essa sensação empática é uma novidade. Não vou nem falar de quando assisti o Inside Out (Divertidamente, em português) num vôo para o Brasil e chorei de soluçar. Não é só choro, claro. É ter mais vontade de abraçar, de beijar, de ficar junto. De fazer carinho. Ainda precisamos dar mais risadas, mas acho que isso ainda vem.

Uma outra transformação (ou resgate do passado), foi a desconexão. Colocar bebês para dormir é um aprendizado de meditação e contemplação. A vontade de olhar para o celular, a sensação de querer fazer outras coisas é real, e todo o dia eu aprendo a aproveitar aquele momento de lusco-fusco pra fazer um carinho, para prestar atenção, para perceber as diferenças, para refletir sobre o dia.

Muitas pessoas se perguntam o valor de ter filhos, e muito se fala ou do sentimento maravilhoso de ter crianças, de rir junto, de voltar a brincar, ou do outro lado de falta de sono, do sofrimento e das privações. Mas acho que se fala pouco do lado de dentro, e do valor que isso trás. Eu não sei dizer se estou virando uma pessoa melhor, mas definitivamente estou virando uma pessoa diferente, e estou tentando entender esse processo e o valor que ele tem. Vou atualizando vocês, veremos o pé que está daqui a um ano.

Até!